Vitória-Trindade:
Uma Regata pela Amazônia Azul
A regata
“Eldorado-Brasilis” que parte de Vitória (ES) e vai até a Ilha de Trindade, terá
sua próxima edição em janeiro de 2008. Essa é a maior experiência náutica que
uma regata pode proporcionar a um velejador no Brasil, dada sua distância: é
realizada entre a cidade de Vitória (ES) e a Ilha de Trindade (20º 30’S e 29º
18’W), a ilha mais distante do território nacional, a 630 milhas náuticas (1.160
quilômetros) do continente, o que, para se ter uma boa idéia, equivale a um
terço do caminho para a África.
A regata começou a ser disputada no ano de
2000, com apenas seis embarcações e na última edição contou com 18 veleiros.
Para a próxima edição já conta com pelo menos 17 inscritos.
A edição de 2008
contará com uma categoria chamada de “Expedition”, criada para os que desejam
visitar a ilha aproveitando a estrutura da regata, mas sem medições ou
engajamento em competições que exigem veleiros grandes, e que contem com
equipamentos de última geração e alta tecnologia. Assim, chegar e voltar com
segurança é a meta, e visitar a ilha e conhecer seus encantos, o prêmio
principal. Apesar disso, mais uma vez a Prefeitura Municipal de Vitória estará
premiando as 20 primeiras embarcações que se inscreverem e completarem a prova
com valores entre 6 mil (do primeiro ao décimo) e 4 mil reais (do décimo
primeiro ao vigésimo lugares). Até trollers já estão inscritos nessa categoria,
indicando o caráter de cruzeiro que a nova “Expedition” terá. Para Plínio
Sampaio Romeiro, jornalista da rádio Eldorado e idealizador da regata, “a grande
novidade dessa nova categoria é não depender totalmente dos ventos e poder se
locomover livremente, o que viabiliza a participação de famílias e equipes de
amigos para conhecerem de perto uma das mais paradisíacas ilhas oceânicas
brasileiras”. E completa: “Mas a categoria regata continua, com o recorde do
veleiro “Sorsa” com 174 horas em 2004”.
A Ilha de Trindade está localizada na chamada
“Amazônia Azul”, termo criado para designar uma imensa área de quase 4,5 milhões
de km² que o Brasil está pleiteando junto à ONU, a partir do acréscimo de 900
mil km² à área da Plataforma Continental, que vai atualmente até 200 milhas
náuticas (370 km). Entre 1987 e 1996 a Marinha do Brasil, através de sua
Diretoria de Hidrografia e Navegação iniciou o projeto de levantamento da
Plataforma Continental (LEPLAC) em parceria com a Petrobrás e universidades
brasileiras, quando foram coletados 150.000 km de dados, o que permitiu que em
setembro de 2004 o governo brasileiro reivindicasse o território.
Conforme
estabelecido na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, todos os
bens econômicos existentes no seio da massa líquida, sobre o leito do mar e no
subsolo marinho, ao longo de uma faixa litorânea de 200 milhas marítimas de
largura, na chamada Zona Econômica Exclusiva (ZEE), constituem propriedade
exclusiva do país.
Em alguns casos, a Plataforma Continental (prolongamento
natural da massa terrestre), ultrapassa essa distância, podendo estender a
propriedade econômica do Estado a até 350 milhas marítimas. Essa é a área que
caracteriza a imensa Amazônia Azul, que acrescentará ao país uma área
equivalente a mais de 50% de sua extensão territorial. Uma área maior do que a
Amazônia verde por onde circulam cerca de 95% do nosso comércio exterior
(importações e exportações), e de onde sai aproximadamente 80% da nossa produção
de petróleo.
Para garantir essas conquistas, ao contrário das fronteiras
terrestres que podem ser facilmente delimitadas, as áreas no oceano precisam ser
estudadas, ocupadas e vigiadas. A realização da regata Vitória-Trindade é parte
da chamada “vertente ambiental”, que juntamente com as vertentes econômica,
científica e de soberania, constituem os pilares do uso racional do mar
territorial brasileiro, estabelecidas e defendidas pela Marinha do Brasil, que
já confirmou apoio não só permitindo e auxiliando o desembarque em Trindade, mas
enviando um Navio-Patrulha que acompanhará a flotilha, proporcionando sua
segurança durante o evento.
Descoberta em 1501 por João da Nova, navegante
espanhol a serviço de Portugal, Trindade foi batizada de “Assunção”, tendo o
nome substituído já no ano seguinte para “Trindade”, pelo português Estevão da
Gama (pai de Vasco da Gama), quando passou por ela a caminho das Ìndias.
Em
1700 Edmond Haley, célebre astrônomo inglês, julgou haver descoberto uma nova
ilha e dela se apossou em nome da Inglaterra. Depois disso os portugueses
voltaram a ocupá-la militarmente em 1756 e os ingleses em 1781, abandonando-a em
seguida. Durante as guerras mundiais, Trindade teve guarnições militares. Em
1924 foi presídio político e em 1957 a Marinha brasileira estabeleceu o “Posto
Oceanográfico da Ilha da Trindade”. Desde então mantém guarnições que se
alternam, fazendo observações meteorológicas e ocupando a ilha.
Na realidade,
trata-se de uma grande montanha de rochas vulcânicas que faz parte de um
alinhamento vulcânico submarino, cuja base encontra-se a quase 5.500 metros de
profundidade. Seu relevo é extremamente acidentado, com cerca de 13,5 km² de
área, e nela existem três picos com altitude próxima de 600 m.
Para conhecer Trindade, a navegação é a única
alternativa e o tempo para chegar lá pode variar entre sete dias (o recorde da
regata) e treze dias, dependendo do veleiro e das condições de tempo. Depois
disso, há um desembarque difícil: complicado pelas condições geológicas, já que
a ilha não tem praias, só é autorizado pelo comandante da ilha se as condições
do tempo forem favoráveis. O desembarque deve ser feito com cuidado por um
sistema chamado de “cabrita” no qual uma pequena embarcação da marinha leva os
visitantes e tripulantes até as poucas faixas de areia encontradas através de um
cabo de aço, o que ocorre na Enseada dos Portugueses. O desembarque na praia
revela o lado indômito do lugar. Lá estão encalhados dois cascos: do veleiro
francês "Lê Roi des Arengues" e do pesqueiro chinês "Hwa Shing". O veleiro, em
1995, soltou-se da ancoragem com os fortes ventos da região, e acabou jogado
contra as pedras enquanto seus donos, um casal, festejavam o aniversário da
esposa, em terra. Esperaram mais de um mês pelo navio da Marinha que os levou de
volta ao continente. Já o pesqueiro, foi propositalmente jogado na ilha em 1989
pelos tripulantes, após matarem o comandante com um tiro na têmpora. O motim
teve como causa o fato dele haver deixado a tripulação à base de peixe cru
durante dois meses...
Em 7 de março de 1966, o contratorpedeiro "Beberibe"
também foi arrastado pelo vento e pelas ondas, encalhando em Trindade com perda
total. Desencalhado, foi posteriormente vendido como sucata.
A ilha é o maior ponto de desova da tartaruga verde
no Brasil. Elas depositam seus ovos principalmente nas praias da Tartaruga e de
Andradas. Segundo dados do Tamar (Projeto Tartarugas Marinhas), já foram vistos
ninhos com até 240 ovos. Estima-se que, de cada mil tartarugas nascidas, apenas
uma ou duas chegarão à idade adulta.
Na ilha, também existem animais que
foram levados pelos homens nas embarcações: cabras, pequenos ratos e insetos
como gafanhotos, baratas, libélulas e aranhas, hoje fazem parte da fauna de
Trindade.
Aves como Fragatas, Atobás, Noivinhas e até Pelicanos podem ser
encontrados na ilha.
Os corais e as pedras que envolvem Trindade servem de
abrigo para moréias, polvos, estrelas do mar, ouriços, raias, esponjas,
lagostas, tubarões e diversos tipos de peixes como garoupas, vermelhos, cações,
badejos, bodiões, dourados, e pufas, estas últimas consideradas como “piranhas
do mar”, por atacarem como piranhas ao menor sinal de sangue.
A vegetação em
Trindade é pobre, e se resume a gramíneas, poucas árvores e uma pequena
“floresta” de samambaias gigantes, uma espécie endêmica (só existe lá). Algumas
dessas samambaias chegam atingir seis metros de altura. Essa falta de variedades
deve-se basicamente a dois fatores. Por volta do século XVIII, a ilha possuía
uma floresta de árvores grandes, parecidas com o pau-brasil. A semelhança
despertou o interesse comercial e essa comercialização causou a extração
indiscriminada, resultando na extinção.
O outro motivo foi a introdução, em
1700, pelo astrônomo inglês Edmond Halley, de cabras e porcos que trouxe a bordo
de seu navio. Os animais acabaram se reproduzindo descontroladamente e devorando
as plantas, além de causaram danos às nascentes de água, facilitando a erosão
que hoje predomina por lá.
A Associação Brasileira de Velejadores de Cruzeiro - ABVC (www.abvc.com.br) está envolvida na organização da edição 2008 da regata e em especial da categoria Expedition: reunindo mais de 700 velejadores de cruzeiro, o lançamento foi realizado no mais recente Encontro Nacional da ABVC que reuniu mais de 500 velejadores em Angra e teve várias inscrições no recente São Paulo Boat Show, onde a ABVC e a Rádio Eldorado de São Paulo estavam juntas num estande. A entidade dos velejadores cruzeiristas estará captando as inscrições, centralizando os “Avisos de Regata” e ajudando a divulgar a próxima edição do evento em seu site: www.abvc.com.br .
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