Uma Regata para poucos
Descoberta em 1501 pelo navegante espanhol a serviço
de Portugal João da Nova, a ilha foi inicialmente batizada de “Assunção”. No ano
seguinte o português Estevão da Gama (pai de Vasco da Gama) passou por ela a
caminho das Índias e rebatizou-a para “Trindade”. Em 1700 o astrônomo Edmond
Haley, julgou haver descoberto uma nova ilha e dela se apossou em nome da
Inglaterra. Depois disso os portugueses voltaram a ocupá-la militarmente em 1756
e os ingleses em 1781, abandonando-a em seguida. Em 1924 foi presídio político e
em 1957 a Marinha brasileira estabeleceu ali o “Posto Oceanográfico da Ilha da
Trindade”, que funciona até hoje.
Para chegar até lá a
partir de Vitória (ES), a navegação é a única alternativa. Alguns velejadores
aproveitam a realização da Regata Eldorado-Brasilis para conhecer a ilha que
este ano teve sua oitava edição. A dureza do percurso (cinco a sete dias), faz
com que o número de participantes seja sempre reduzido. Muitos vão a Trindade e
não conseguem conhecê-la, retornando sem desembarcar devido às dificuldades de
desembarque.
Este ano cinco veleiros participaram e
destes, só dois conseguiram chegar, ainda assim na categoria “Expedition” que
permite a utilização do motor. O veleiro Vmax 5 do veterano Kan Chuh, participou
na categoria “solitário” e foi o único que fez todo o percurso a vela, mesmo
assim tendo que pedir a chamada “reparação”, encurtando o percurso em
aproximadamente 80 milhas, pois a falta de ventos não permitiria que o retorno
fosse feito dentro do tempo máximo estabelecido e ele seria desclassificado se
insistisse em chegar ate a ilha.
Entretanto, apesar de
todas as dificuldades e da classificação final, todos reconhecem: o maior prêmio
é conhecer a Ilha da Trindade. O veleiro “Peter Pan”, comandado por Ricardo
Rípoli, teve a hélice de seu motor quebrado e também não conseguiu chegar. Como
estava numa região mais distante da ilha, preferiu voltar rebocado pelo Navio
“Almirante Guillobel”, da Marinha do Brasil, que acompanhou a regata. O veleiro
“Plankton” desistiu nas primeiras vinte e quatro horas, após enfrentar uma
largada com ventos de 40 nós e ondas de quatro metros: o tripulante mais novo,
filho do comandante Fábio Gandelman, de apenas 4 meses estava a bordo e os pais
preferiram retornar. Conseguiram chegar apenas os veleiros “Horizonte” e
“Namastê”.
A ilha é de origem vulcânica e envolvida por corais e
pedras. A única faixa de areia que permite o desembarque tem 6 metros e fica
entre pedras. Na pequena praia a profundidade chega aos dois metros facilmente.
O mar entra de frente. Em dias calmos, basta acelerar o bote entre uma onda e
outra. Voltar é pior, pois obriga pelo menos um dos tripulantes a nadar
empurrando o bote contra a arrebentação e só depois subir a bordo. Com mar
agitado é impossível desembarcar. Seu relevo é extremamente acidentado, árido
com picos de até 640 metros de altitude. Em 1995 o veleiro "le roi des arengues"
soltou-se da ancoragem com os fortes ventos da região, e acabou jogado contra as
pedras.
A Marinha tem um mecanismo de balsa que desliza por um cabo de aço
preso entre um navio e a ilha. Na verdade uma grande e pesada gaiola de metal
flutuante usada para descarregar mantimentos e combustível para a ilha de dois
em dois meses, apelidada de “cabrita”. Com mar agitado não é raro quem está em
cima cair no mar. Em 15 de agosto de 1978, o Marinheiro Carlos Alberto Barros de
Oliveira, tripulante do “Navio Hidrográfico Canopus” morreu esmagado entre a
balsa e o navio.
A guarnição da Marinha (pouco mais de 30 homens) fica quatro
meses na ilha. Lá funciona o “Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade” onde são
coletados diariamente dados meteorológicos para a elaboração das cartas
sinóticas.
A vegetação em Trindade é pobre, e se resume a
gramíneas, plantas rasteiras, poucas árvores e uma espécie de samambaias
gigantes que só existe lá. Essa falta de variedades é explicada pela introdução
de cabras no século dezoito. Os animais acabaram se reproduzindo
descontroladamente e devorando as plantas, além de causarem danos às nascentes
de água, facilitando a erosão que hoje predomina por lá. Só no ano de 2000 as
cabras foram definitivamente extintas. Também nessa época, a ilha possuía uma
floresta de árvores grandes, parecidas com o pau-brasil que, despertando o
interesse comercial, resultou em sua extinção.
Atualmente
são realizados estudos e pesquisas pelo Ibama e pelo Projeto Tamar, que
monitoram as praias e acompanham a desova das tartarugas verdes. A equipe
acompanha, monitora, marca os ninhos e faz relatórios. Mesmo quando as pequenas
tartarugas saem dos ovos e são devoradas às centenas pelos caranguejos que
infestam o lugar não há interferência, que poderia alterar o delicado equilíbrio
ecológico da mais isolada ilha brasileira.
Aves como as
“Viuvinhas” e os “Trinta-Réis” nidificam na ilha e podem ser encontrados com
facilidade, aproximando-se dos visitantes sem cerimônia.
Também é possível mergulhar - entre um e quinze metros de profundidade - nos
escombros do Navio Beberibe, naufragado em 7 de março de 1966. Lá e em toda a
ilha, encontramos diversas espécies da fauna marinha. Nenhuma em tão grande
quantidade como as chamadas “Pufas”, que existem aos milhares. Seu nome deve-se
a uma brincadeira local que sugere a fala dos peixes: “pufavor, me pegue...”.
Pode-se pescá-las até jogando um balde na água...
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