Foi numa dessas velejadas de aluguel. Por indicação de um broker chamado Gilberto (Pier Point), havia dois veleiros à venda. Um Velamar 24 e outro, 27, ambos alí próximo. O 24 estava bem largado, fechado e com um preço não muito atraente em vista do que teria de ser gasto para uma "geral", apesar de um motor volvo diesel de centro (desmontado e com óleo espalhado por todo o barco). Viagem perdida, logo pensei. Ao lado dele, um simpático senhor de nome Vicente num Brasília 27. Conheci um homem apaixonado por seu barco. Daqueles que cuida de cada detalhe. Inventa coisas, pecinhas, limpa, conserva... Papo vai, papo vem, permissão para subir à bordo... Ele estava trocando a gaiúta com um parente e conversamos por uns 20 minutos. No final, ele me disse que estava vendendo o veleiro pois precisava do dinheiro, mas, "de lado" o rapaz que estava com ele me disse que ele sempre dizia que estava vendendo, mas na hora "H" não se desfazia do barco (detalhe que não dei muita atenção)... Como o preço também estava um pouco além das minhas possibilidades acabei por ir embora sem nem pedir o telefone do "seu Vicente".
Mas o barco ficou batendo na minha cabeça durante toda a semana. Tinha um tamanho ideal para a nossa família, estava conservado e pertencia a alguém que tinha um espírito do mar. Alguém que conhecera e que gostava de seu barco. Como eu sonhara. Comprar um barco qualquer de alguém qualquer é uma coisa, mas conhecer o dono e depois comprar seu barco, é no mínimo, muito mais interessante. É uma estória que continua... Mas onde arrumaria o restante do dinheiro? Será que o "seu Vicente" venderia realmente o barco? Na semana seguinte, num domingo, fomos Diana, Victor, Heleninha e eu até o local onde estava o Brasília 27, na esperança de reencontrar o "seu Vicente" e conversar com ele novamente. Não só ele não estava, como o tempo foi ficando muito ruim até desabar uma chuva enorme que por pouco não nos deixou presos, ilhados num aguaceiro medonho na Riviera da Guarapiranga: Primeira lição deste "causo": dia de chuva na Riviera, ou bem se pede uma cerveja e fica, ou sai correndo...
Antes de sair (correndo), vi um veleiro no pier: ali estava um belo Atol 23 com o dono "dando um trato". Lembrei dele: um veleiro que tinha gostado e até falado com o dono anterior pelo telefone. Mas numa "bobeada" de tempo - deixei para conhecer o barco na semana seguinte - outro comprador chegou na minha frente e levou o Atol. Preço bom não dá sopa... Mais uma lição. Na hora apelei para o broker: ache o "seu Vicente" e confirme a intenção de vender. Se ele topar, o veleiro é meu. Não vou perder outro sonho... O dinheiro? Bem, dou um jeito: sai da previdência privada. Aquela que prometi com minha esposa que "nunca mexeremos pois é nossa segurança na velhice". Chegamos à conclusão que o veleiro poderia ser vendido numa emergência e que se fazia parte de nossos planos velejar na nossa aposentadoria, então faria sentido comprá-lo usando aquele dinheiro...
Na semana seginte o Gilberto me ligou e disse: "Falei com o Vicente e ele vai ver um O'Day 23 para ele amanhã. Se ele gostar do barco, negócio fechado...". Dois dias depois entretanto, o "seu" Vicente desistiria do negócio depois de ver outra vez o tamanho de um O'day 23 e do que teria que fazer para deixar o barco como era o seu...". Outra lição: negócio bom é negócio fechado...
"Seu" Vicente, D. Cleusa e o Asuelc,
um Brasília 27
Restava o Albatroz (Velamar) 27, que não tinha visto, mas o preço... sempre o preço... Quem sabe este daria negócio? Liguei: "Gilberto, ofereça assim, assim, e assim. Quem sabe o dono topa...". E não é que topou? Marcamos uma visita para ver o barco. Antes, liguei para conhecidos, acionei a internet, pesquisei, comparei preços, li textos, perguntei referências daquele barco especificamente, e as obtive. Lição número quatro: o tempo que se investe em amigos, passeios, ver barcos, se reverte em referências de conhecimentos técnicos que podem ser usadas posteriormente...
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