REFENO 2005
Fernando de
Noronha. Um lugar no imaginário de muitas pessoas, principalmente quando
velejam.
Eu tinha feito uma promessa para mim mesmo: "um dia vou pra Noronha, mas tem que
ser pelo mar".
No início do ano, quando muitos fazem promessas e outros tantos traçam planos
e estratégias reais para realizar sonhos, peguei meu calendário de mesa e fui
escrevendo: semana de vela de Ilhabela, Seminário de Segurança do Navegador
Amador, Refeno... Seria possível que esse ano finalmente eu realizasse meu
sonho? Era chegada a hora. Como? Medi as forças: há três maneiras de se
velejar para Noronha. Ter um veleiro capaz de ir pra lá, ter um amigo que
tenha, ou pagar pra ir como tripulante.
OK, alternativa "C". Fuça, procura, conversa e a escolha recaiu sobre
o veleiro "Kanaloa" do casal Torres e Elisa. Na tripulação, alguns
amigos de São Paulo que fecharam junto e dois desconhecidos, um gaúcho e uma
paraibana que se revelariam grandes amigos, cuja companhia foi intensa e amiga
durante toda a viagem. Aqui por Sampa, até organizamos cursos de mergulho com
certificação e "revival" para os certificados para poder mergulhar
juntos por lá...
Detalhes acertados e muitas conversas e emails depois, estávamos prontos para a
grande viagem...
22/09/2005
Embarcamos pela manhã e após um vôo
tumultuado com problemas na turbina de BE, trocamos de avião no RJ e
prosseguimos para Recife onde nossa cicerone-mor e até então amiga oculta, a
paraibana Carla Fiuza já tinha desistido de nos esperar no
aeroporto. Seguimos por taxi até o Cabanga Iate Clube onde após deixarmos
alguns pertences e breves apresentações saímos para uma merecida refeição.
Amigos velhos e novos foram sucedendo à medida que ficamos pelo Clube.
Final de tarde, começo de noite fomos ao supermercado comprar as provisões. O
Land Rover foi pequeno pra tanta bugiganga...
Á noite, a festa no Cabanga foi uma gostosa viagem musical - quase um
teatro - pela estória regional da música brasileira com coreografias,
fantasias e muita animação. As mesas com as respectivas tripulações puderam
confraternizar e logo todos estavam integrados na festa. Kaka Maumau e Kanaloa
formaram um grande grupo.
Cap. Torres e as compras
23/09/2005
Antes do café à
bordo, ainda bem de manhã, estava simplesmente olhando em volta e notei um
veleiro entrando no Cabanga. No primeiro momento não acreditei, mas era
verdade: tive a oportunidade de presenciar a chegada do Veleiro "Triton", do Frans
Prijkel, completando sua
volta ao mundo: foram 37543 milhas (1,7 voltas ao mundo....) em 5 anos num Fast
345/ 1987. Ele e meu falecido pai têm um amigo em comum, o Camacho, pois todos
trabalharam na Borroughs eletrônica (à época, concorrente da IBM...), ainda
que em épocas diferentes. O Camacho sempre me mandava fwd das mensagens
recebidas do Frans, de maneira que o acompanhava à distância há muito tempo.
Me senti um pouquinho mais próximo daquela estória...
Mais tarde saímos para um passeio pelo Recife e Olinda, sempre guiados pela agora
conhecida e alegre Carla. No almoço já em Olinda, um super prato de carne de
sol desfiada com cebola acompanhado de um purê de macaxeira, farofa de banana e
muita cerveja. Ninguém merece menos...
A noite caiu e a ansiedade não deixou que dormíssemos cedo aquela noite...
A maravilhosa Olinda com
Recife ao fundo
24/09/2005
Nesta manhã, após uma tentativa
frustrada de banho - parece que o Cabanga não está estruturado para os mais de
100 veleiros - já que não havia água, o jeito foi ficar sem banho. Alguns
caíram na piscina, outros foram filar banho na casa de conhecidos...
Sair do Cabanga em dia de largada da Refeno é Feliniano. Cabos de popa, botes
de apoio, funcionários desesperados e um emaranhado de veleiros misturam-se a
partir do nascer do sol. Uns dependem da saída de outros e a agitação começa
cedo. Muitos querem dirigir-se ao Pernambuco Iate Clube (Pic) para ficar mais
tranquilos aguardando a largada.
Sair do emaranhado do
Cabanga pela manhã não é tarefa muito fácil...
Chegamos ao Pic cedo, onde ficamos um tempo com o veleiro Catchura, um Velamar
31 à contrabordo. Largamos ferro e aguardamos o horário de partida. Antes, é
preciso fazer o check-in, passando pela frente da arquibancada e comunicando via
VHF à Comissão de Regata o nome do veleiro e o número de tripulantes. Alguns
veleiros fizeram o check in antes de nós. Nada de mais, pensei eu. Isso merece
uma largada em alto estilo. Chamei a Carla com sua fiel bandeira da Paraíba e
convoquei a arquibancada em terra com gritos, assovios e agitos de mão. A
resposta foi imediata e toda a arquibancada respondia aos acenos de mão,
aplaudiam e assoviavam de volta. Agora sim, a festa tinha começado...
A largada não foi muito boa para o Kanaloa, mas a derrota previamente traçada
pelo comandante Torres bem como seu conhecimento prévio dos pontos mais
adequados para orçar e arribar sem a necessidade de bordos desnecessários
fariam a diferença, afinal era a sua quarta Refeno...
No
PIC, com o Catchura à contrabordo...
... e a galera na largada durante o check in
25/09/2005
O dia 25/09 amanheceu bonito.
Durante a noite os turnos foram se alternando e mesmo um tanto mareado, consegui
cumprir meu horário. Nessa hora entretanto senti falta de um relógio que
pudesse ser programado para despertar de 10 em 10 minutos (ou a qualquer tempo
que a proximidade dos concorrentes exigisse), pois a adaptação do corpo em
geral leva algum tempo e o sono bateu brabo. O Kanaloa possui um piloto
automático o que facilita em muito a navegação, bastando ficar de olho no
abatimento e ir corrigindo. O principal papel de quem está no turno é observar
à volta a aproximação de outras embarcações e providenciar uma mudança de
rumo ou ainda corrigir um abatimento (desvio de rota). Algumas embarcações
entretanto, comandadas por pessoas irresponsáveis - como deparei-me no início
de um dos meus turnos - navegam totalmente apagadas. Uma outra ainda,
colocou uma estrobo encarnada como luz de alcançado, estando em rumo de
colisão conosco...
Absurdos que poderiam
facilmente ter causado acidentes mais graves.
Usar o banheiro de bordo é um capítulo à parte. Com o mar picado e um través
forçado, quase contravento, faz de qualquer simples xixizinho um ato de
coragem, disciplina e persistência...
O dia termina e
começa a rotina dos turnos...
26/09/2005
Já no meio da manhã a primeira
vista de Noronha, envolta em muita bruma renovou os ânimos da tripulação.
Desde a madrugada localizávamos o "Entre Polos" e o
"Passatempo", e sabíamos que havia uma grande chance de chegarmos com
boa posição. Durante a manhã, entretanto, o "Entre Polos" tomou uma
distância considerável e tornou-se praticamente impossível alcançá-lo. Ele
chegaria com dezoito minutos de vantagem sobre o Kanaloa. Restava o Passatempo e
o Jamaluce em nosso través e a partir desse momento a briga foi intensa...
Fazendo escora para o
pódio...
Após baixarmos o dog house e passarmos todo o combustível - assim como a tripulação em contrapeso - para o bordo, começamos a ganhar o segundo lugar na classe aço. A decisão do Comandante Torres de abordar a ilha a barlavento e aproveitar as rajadas catabáticas foi de fundamental importância para a chegada, apenas 3 minutos na frente do terceiro lugar, o valente "Passatempo". Sobre esse momento, reproduzo a seguir a narração da tripulação do Passatempo, publicada no site www.popa.com.br:
"Entre
Pólos estava duas milhas atrás e o Vadio duas milhas à frente. Com este
procedimento acompanhávamos a evolução dos nossos concorrentes. Na madrugada
as posições se inverteram, nós tínhamos ultrapassado o Vadio que estava uma
milha a trás, mas fomos ultrapassados pelo Entre Pólos que estava a três
milhas a nossa frente. Tinha barco de aço oito milhas atrás já nas primeiras
24h. O vento permaneceu de leste-sueste praticamente todo o percurso, oscilando
entre 15 e 20 nós, aumentando um pouco com os pirajás.
Às 7h do dia 26\09 avistamos Fernando de Noronha a umas 20 mn encoberta por uma
bruma, dificultando muito a visualização de seus contornos. Nesse momento o
Entre Pólos estava a duas milhas a frente, o Vadio e o Jamaluce a três milhas
atrás e o Kanaloa bem no través. Cruzamos a Ponta da Sapata 20min atrás do
Entre Pólos e disputando com o Kanaloa. Brigamos até a linha de chegada, mas o
Kanaloa com seus 50 pés chegou 2 min* à frente do Passatempo...".
* A diferença entre os veleiros no tempo oficial foi de 2 minutos
Cruzando a linha de chegada
quase juntos: Kanaloa, Passatempo e Jamaluce...
Exatamente às 10:24:35h
cruzamos a linha de chegada em segundo lugar na classe aço e em 55º na classificação geral entre 107
veleiros, com o tempo de percurso
de 46:24:35h, e após percorrer 300 milhas.
Meu sonho virava realidade: cheguei em Noronha pelo mar conforme me havia
prometido há alguns anos...
A
descoberta de Fernando de Noronha em 1503, é atribuida ao navegador Américo
Vespúcio, participante da segunda expedição exploratória às costas
brasileiras, comandada por Gonçalo Coelho e financiada pelo fidalgo português
Fernão de Loronha, arrendatário de extração de Pau-Brasil. "O
paraíso é aqui", disse Vespúcio quando abordou aquela ilha deserta em l0
de agosto de 1503.
É mesmo...
Após a
comemoração com muitos badalos do sino de bordo, um bom vinho e muita
algazarra, estávamos prontos para o desembarque. Os casais logo procuraram uma pousada para
tirar o gosto de "muita gente por m2 à bordo". Depois fomos curtir o
famoso Tubalhau, restaurante especializado em carne de cação tratada como
bacalhau: salgada e desidratada, tendo seus principais pratos o "Bolinho de
Tubalhau e a "Tubalhoada".
O garçon, Bob, um negro simpático e brincalhão ganhou a simpatia de todos.
Os Bob's
Após esse
primeiro contato, fizemos um breve passeio a pé, pela Vila dos Remédios, já
com a noite caindo, aproveitando para fazer o check in do mergulho, preencher
fichas, assinar termos, etc.
No início da noite assistimos a uma palestra feita
pelo Diretor do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (parte da ilha).
Criado em 14
de setembro de 1.988,
(decreto federal nº. 96.693), pertence a Pernambuco, e tem uma área de 11.270
hectares, com 60 km de perímetro.
Graças
a essa palestra pudemos curtir um pouco mais a ilha, seus espécimes e costumes,
além de poder fazer isso em segurança...
Mais tarde fomos curtir um sashimi e uma cervejas -
afinal ninguém é de ferro. Bocejos à parte, os casais foram se encaminhando
para as pousadas, enquanto eu e o Daniel precisávamos contatar o Torres, que
havia ficado no Kanaloa. Tentamos celular, VHF, sinais de fumaça, telepatia... ficamos a
pé, na praia, à noite e sem ter onde dormir... Lá pelas tantas apareceu um
cidadão quase sóbrio num bote, e resolvemos pedir uma carona até o veleiro.
Por certa precaução, Torres havia fundeado o Kanaloa bem longe do portinho,
próximo ao Cisne Branco. Ocorre que, na euforia do desembarque, nem eu nem o
Daniel prestáramos atenção na localização do veleiro, de maneira que nosso
"taxi boat" mendigado à custa de um certo suborno em cervejas foi
ficando um tanto quanto irritado por gastar sua gasolina de veleiro em veleiro,
que àquela altura eram vultos na escuridão do mar de Noronha. Após um
"porra, vocês vieram de veleiro e não sabem onde deixaram?", decidi que era hora de voltar ao porto... Só não fiquei traumatizado - afinal apesar
do estado etílico ele tinha razão - porque na noite seguinte seria a vez do
próprio Comandante Torres cometer o mesmo erro e ficar vagando desesperado pela baía,
achando que o Kanaloa tinha garrado, e tentando, em vão, achar o local onde
fundeara...
Após a volta triunfal dos marujos perdidos, demos mais alguns telefonemas e tentativas de
VHF, e voltamos ao bar onde havíamos jantado e solicitamos um taxi: "ihh, a
essa hora não tem mais..." foi a nossa resposta. Entretanto alguém se
lembrou de uma amiga taxista que voltaria e que talvez conhecesse um
pousada com duas camas...
27/09/2005
Amanhecemos numa simpática
pousada onde após o café da manhã aguardamos Roberto - o Rob - com nosso buggy
para as aventuras do primeiro dia na ilha. Reunimo-nos e abastecemos os carros,
indo passar o dia em mergulhos de apnéia na maravilhosa praia do Sancho:
A tripulação do Kanaloa
chegando ao Sancho
Sancho visto do
alto...
... e da praia
Pois é, lá
estava eu, mergulhando num aquário. Junto, Daniel Mix Kamamoto. Num lance de segundos,
subi para respirar e de lá, vi a seguinte cena: enquanto uma moréia enorme (no
mínimo uns 2 m) saia da toca pra abrir a bocarra e espantar minha visita, o
Daniel que acabara de pegar ar, mergulhou metros antes e foi subindo, só que na
direção da bichinha. Deram-se cara a cara (ou focinho a focinho).
O encontro e a reação do Daniel foi algo hilariante...
(Foto
de Augusto Froehlich)
A amiga do Daniel, já refeita do susto,
fotografada logo depois pelo Augusto...
O
almoço foi no restaurante Tartarugão, próximo ao Ibama, onde comemos uma
caldeirada chamada de "tartarugada", obviamente sem carne de
tartaruga...
À tarde passamos
pela Praia do Leão, cuja vista é magnífica e lembra muito a Ilha de Páscoa,
com seu penhasco e pedras vulcânicas. Por lá normalmente avistam-se tubarões
se alimentado.
O final da tarde foi reservado ao programa obrigatório de todo visitante:
assistir o pôr-do-sol no forte do Boldró, alías Forte São Pedro do Boldró, uma ponta que sobressai ao mar
próximo à praia do mesmo nome, e de onde se avista o sol caindo atrás dos
"dois irmãos". Todo mundo que vai à Noronha têm essa foto. Mas com
certeza, cada um lavou sua alma de um jeito único e gravou de maneira
indelével em seu coração essa cena. Eu chorei. Lembrei das minhas meninas,
Diana e Helena, que não foram comigo. E nesse momento fiz uma nova promessa.
Volto com elas...
Saudades dos amores que ficaram
em terra...
Quando anoiteceu fomos até a "Casa da Paraíba", um local montado pelo Governo da Paraíba em Noronha para divulgar a travessia da volta, e também o estado, rico em artesanato e belezas naturais. Cachaça da boa, queijo coalho, bate papo com os amigos... Muitos velejadores estavam presentes e a festa foi animada, um preâmbulo de nosso jantar: lagosta no restaurante "Ekologicus", um local de difícil localização, mas com uma lagosta inesquecível. Pedimos duas. Comemos em seis. Sobrou um quilo... A nota cômica desta noite foi a escolha das bebidas. Enquanto alguns praticavam seus conhecimentos de proeminentes enológos de temporada escolhendo vinhos que combinassem com o ambiente e com a refeição, outros optavam pela velha e boa cerveja gelada. Com uma exceção: Daniel, que não consome bebidas alcoólicas. Já fartado do velho binômio coca-limão-e-gelo e guaraná-com-laranja, optou pelo único item na seção "sucos": Tampico de Morango. Creia: ele comeu lagosta e bebeu Tampico... Ninguém merece...
As lagostas e o Tampico...
28/09/2005
Às sete horas em ponto estávamos no portinho,
aguardando o barco que nos levaria aos pontos de mergulho. A embarcação "Lambaru"
- nome que homenageia o cação lixa, presente na fauna de Noronha estava sendo
carregado com o material necessário para a turma. Os mergulhos haviam sido
fechados já em São Paulo, a partir do contato feito com a operadora
"Noronha Diver" na Adventure Sports Fair, através da simpática
Luciana (luciana@doisgeventos.com.br),
que comercializa os pacotes aqui por São Paulo. Como nosso grupo era grande,
(umas 10 pessoas entre os tripulantes do Kanaloa, do Kaka Maumau), conseguimos
um bom preço. Durante a saída, entre apresentações, equipamentos e
instruções, aconteceu um (mais um !) dos momentos mágicos de Noronha:
encontramos um enorme bando de golfinhos - certamente mais de 60 - pulando e
nadando à nossa volta. Mães com filhotes lado a lado. Eram os
golfinhos-rotadores...
O ciclo diário de atividades dos rotadores em Fernando de Noronha consiste na alimentação
noturna, com seu deslocamento matinal em direção à Baía dos Golfinhos, chegada ao nascer do sol e saída
a partir do início da tarde para as zonas de alimentação.
Uma coisa pra não se esquecer jamais...
O mergulho foi maravilhoso. Uma imensidão cristalina, com visibilidade de 50
metros e muitas espécies.
Em companhia da Carla, do Daniel e do Fernando Sheldon, presidente da ABVC (http://www.abvc.com.br),
éramos 4 no grupo, além do instrutor. Contratamos uma filmagem em DVD para
guardar e mostrar aos amigos e parentes...
Sheldão e Daniel sentados
aguardam instruções...
O jantar desse fantástico dia foi um simpático crepe numa alegre reunião com os tripulantes do Kanaloa...
29/09/2005
Cacimba do Padre
Na manhã do dia 29 fomos mergulhar na Baía dos Porcos. Esta paradisíaca e pequena enseada tem seu acesso à pé por uma pequenina trilha que sai no final da praia "Cacimba do Padre" junto ao pé dos "Dois irmãos". Chegamos cedo e aproveitamos com mergulhos até a hora do almoço, que foi nada menos que uma barracuda assada em folha de bananeira com muita cerveja e mandioca frita (macaxeira, por lá...).
Baía dos
Porcos
... e um Atobá
Durante esse almoço, pude conversar com os barraqueiros sobre a situação que eles enfrentam no comércio. A cerveja gelada que tomamos, é comprada por eles no próprio supermercado da ilha, pagando o mesmo preço que nós, turistas, pagamos. Claro que colocando seu ganho isso chega a R$ 3,00 por lata. O barco que traz os víveres para a ilha é do dono do supermercado e não é qualquer barco que pode chegar com abastecimento... Numa conta rápida mostrei a eles que perdiam cerca de R$ 1.000,00 por mês e que se juntassem 5 ou 6 comerciantes, em um ano de economia comprariam um barco próprio... bem, por via das dúvidas tomei outra cerveja e paguei os tais R$ 3,00 sem muita culpa...
Barracuda na folha de
bananeira... com macaxeira.
Durante o almoço, eu e o Rob tivemos um insight de, digamos, medir o combustível do buggy. Claro que não havia marcador e após acharmos um galho comprido e fino, abrimos o tanque e voilá: por mais que enfiássemos o pauzinho ele saia seco, seco... Como o Augusto e a Crista não ficaram para saborear o peixe assado, se propuseram a colocar mais um pouco de gasolina... Caso o buggy parasse, nos comunicariam pelo celular. Deu tudo certo e em breve já saíamos em direção às pousadas para tomar uma chuveirada (filar, digamos os que não estavam hospedados, eu e Daniel mais especificamente...) e seguir para o portinho a fim de fazer o "passeio dos golfinhos". Esse passeio, à tarde é o mais provável de se encontrar os bichinhos nadando pelas baías. Dito e feito. Mais um êxtase. Mais magia...
No passeio, tive o privilégio de conversar com o simpatissíssimo Sr. Maurício Castro, que estava por lá em seu veleiro "SUVA 2", um Delta 32. Foi ele o criador da Refeno. Em 1984, ele foi sozinho à Fernando de Noronha. Já no ano seguinte, promoveu um cruzeiro que partiu de Recife com destino ao Arquipélago de Fernando de Noronha. Seis barcos fizeram a travessia. Um ano depois foi realizada a primeira REFENO...
Sr.
Maurício Castro me conta como a Refeno começou...
Foi ele também
quem me
contou a lenda dos gigantes que morreram em Noronha.
Um casal de gigantes moravam lá. A giganta morreu deitada, só ficaram os seios
de fora.
E o gigante também morreu deitado, olhando os seios dela...
A giganta morreu
deitada...
... e o gigante também...
No retorno, o
barco para no Sancho para mergulhos e deleite dos passageiros. A esta altura lá
já estava um barco local, fundeado, e de
onde saía uma fumacinha de churrasco e vez por outra ouvia-se um "stic"
de latinhas de cerveja sendo abertas. Repentinamente ouço um berro de lá:
era o Fernando Sheldon à bordo.
Foi nessa direção que nadei com gosto...
Nesse dia o pôr-do-sol foi no Fortaleza de Nossa Senhora dos Remédios, e que foi montada sobre um primitivo reduto holandês, erguido em 1629.
Noronha é
pródiga em redutos arqueológicos. Abandonada
por mais de dois séculos e situada na rota das grandes navegações, foi
abordada por muitos povos, sendo ocupada temporariamente no século XVII por
holandeses e no século XVIII por franceses.
As invasões motivaram a definitiva ocupação por Portugal a partir de 1737,
sendo construído o sistema defensivo com dez fortificações - "o maior
sistema fortificado do século XVIII no Brasil" -, dentre os quais a
Fortaleza de N.Sª dos Remédios. A maioria desses fortes estão de pé ainda
hoje e dos demais restam - não se sabe até quando - evidências arquitetônicas.
O Arquipélago também transformou-se num Presídio Comum, para presos
condenados a longas penas. Foram esses presidiários a mão-de-obra que ergueu
todo o patrimônio edificado e o sistema viário que interliga vilas e
fortes.
Em 1938 o Arquipélago foi cedido à União, para a instalação de um Presídio
Político. Em 1942, durante a II Guerra Mundial, criava-se o Território Federal
Militar, juntamente com o Destacamento Misto de Guerra e a aliança com a
Marinha norte-americana, que instalou na ilha uma Base de Apoio, com cerca de
300 homens.
A fortaleza de
Nossa Senhora dos Remédios está localizada sobre uma colina. Sua implantação
foi definida a partir de uma estrada, que segue todo o flanco da colina até
suas muralhas. No passado, foi ela que abrigou os presos comuns e políticos,
bem como soldados durante a II Guerra Mundial.
Infelizmente seu estado de
conservação - assim como o de quase todo o patrimônio arqueológico de
Noronha - é fruto do descaso das autoridades. Apesar de poder ser classificado
como "bem conservado", em nada lembra a conservação do Forte de
Santa Catarina, em João Pessoa, por exemplo...
Portinho visto da fortaleza
A foto acima mostra parte da visão da artilharia que cobria mais de 270º no ponto mais estratégico do arquipélago.
Após o espetáculo do poente, fomos até a pousada do Zé Maria, ícone do
pernoite Cult na ilha. Frequentado por famosos (ex-famosos e pretendentes a...), a comida
de maneira geral é boa e o ambiente sofisticado e agradável. Desde que não se
peça o prato de carne de sol com farofa de banana. Nesse caso parece que se
mastiga um pedaço de E.V.A. com farinha de mandioca crua... Culpa do Rob que
resolveu dividir esse prato comigo pois achava-se em dificuldades
gastro-intestinais, digamos...
Havíamos combinado
comemorar lá o aniversário da Paula, esposa do Ralf. Na verdade a grande
responsável foi a Carla-Paraíba-Fiuza, que desde a preparação da viagem,
ainda em meados de agosto já organizara a coisa toda. Teve até bolo de aniversário,
chapeuzinhos, apitos e "parabéns a você"...
30/09/2005
Travessia Noronha Paraíba
A situação da
largada para a travessia Noronha - Paraíba me
fez lembrar Eric Tabarly, que em seu livro "Memórias do Mar" descreve
a adrenalina que toma conta dos velejadores numa regata:
"...dentro dessa
bagunça aquática as regras de preferência e fairplay são substituídas pela
de "cada um por si" e depois de mim o dilúvio...".
Foi mais ou menos isso o que ocorreu. Não. Foi exatamente isso...
Com sua benção, Messieur Tabarly, estamos voltando...
(Foto
de Augusto Froehlich)
Adeus Noronha... adeus...
A saída foi um
pouco confusa, com atraso, sem lancha da CR pra se ver. Talvez pelo ineditismo
da travessia, talvez por algum porre de véspera de alguém. Não tem problema.
Em Noronha muito pouca coisa tem importância e cá entre nós, quanto mais se
demora a sair, melhor... Procuramos - sob orientação de Torres (àquela altura
Capitão Torrão, para os íntimos), manter-mo-nos à barlavento, para arribar
na largada, o que deu certo. Ou quase. Um veleiro na orça sanduichou um
terceiro em nossa popa e uma batida de pequenas proporções ocorreu apesar dos
apelos desesperados de "água, água" com que Torres tentava
comovê-los...
Quem bate num Van De Stadt de 50
pés em aço e 26 toneladas, em geral leva a pior...
Ainda com Noronha em nossa popa, e poucos minutos depois da
largada estávamos com pelo menos uma boa milha à frente do concorrente de
aço, Lady Eduína. Pouco tempo depois ele seria visto - não só pela nossa
tripulação, mas por outros veleiros que confirmariam caso protestássemos, panejando sua genôa toda força à
vante, digo, todo pano à vante... Sob fortes "suspeitas" de haver motorado ele
ficaria com o primeiro lugar na Travessia de volta até João Pessoa. A
direção do Iate Clube da Paraíba chegou a pedir que entrássemos com um
protesto, mas decidimos que haveria festa e não briga. Sábia decisão, Cp.
Torrão. Sábia decisão... Veio a noite e as estrelas, um ou outro Pirajá com
ventos mais fortes, mas nada que comprometesse o Kanaloa...
01/10/2005
Desta feita consegui um bom bordo
para
dormir sossegado e encaixado entre cama e costado, ao contrário da ida quando
em muitas ocasiões rolei cama abaixo. Às vezes alguém filava um chão no
salão central, mas corria sempre o risco de acordar com um pisão na cara,
certo Sr. Daniel?
Neste dia tivemos a companhia de mais golfinhos, que desta
vez nos brindaram com saltos de corpo inteiro para fora da água, uma maneira
que usam para organizar os bandos de 4 a 60 indivíduos em média...
Magistral... Pudemos também ver peixes voadores. Parecem andorinhas. Voam uma
distância muito grande, ao contrário do que pensava...
Novamente sucederam-se os turnos sem maiores problemas...
02/10/2005
A aproximação de qualquer porto
à noite é preocupante. Ainda mais quando se chega por um rio, cujas margens
tem bancos de areia. Este é o caso de Cabedelo, na Paraíba, nosso porto de
chegada após 240 milhas, desde Fernando de Noronha. Mesmo balizado, reconhecer
as bóias e suas marcas é estressante para quem tem ou não experiência no
mar. É toda uma tripulação com suas vidas sob seu comando, um veleiro que
pode ser perdido e ainda por cima é uma regata: o tempo conta. Conseguimos nos
localizar bem mas a chegada era dentro do porto e o vento muito pouco,
fazendo-nos dar três bordos exatamente na última marca. Para aumentar a
tensão, um desses bordos foi feito por fora da bóia, na área de perigo de um
dos bancos de areia, sob dois avisos pelo VHF: o primeiro, da praticagem,
alertando do perigo como se pudéssemos àquela altura fazer algo melhor. O
segundo, muito pior, expôs todas as nossas fraquezas humanas. Derrotados pela
falta de ética e hombridade do concorrente que ligara o motor ainda à saída
de Noronha, ouvimos seu comunicado de chegada enquanto brigávamos com o
balizamento.
Se eu dissesse que não me importei estaria mentindo. Mas fiz
força para espalhar um astral melhor de chegada entre os que mais sentiram esse
baque... Nossa doce vingança ainda estaria por acontecer na noite da
premiação...
Às 03:20h da
manhã jogamos ferro no Rio Paraíba, descansamos alguns momentos e ao nascer do
sol estávamos nos segurando no box do chuveiro sob uma água quente e doce, que
aparentemente balançava sobre nossa cabeça... No pontão, mesmo de madrugada,
um dos diretores do Iate Clube da Paraíba estava á postos para nos
cumprimentar e dar as boas vindas.
Era como se a Paraíba nos abraçasse após
uma longa travessia...
(Foto
de Augusto Froehlich)
Kanaloa descansa em
Cabedelo
Saímos em um taxi à cata de um hotel e tomamos um bom café da manhã. Depois de instalados, Rob, Daniel e eu fomos até a praia, comer camarão, ostras, peixe frito e outras delícias que o Nordeste nos apresentou, sempre com muita cerveja gelada. À tarde dormimos um pouco para nos prepararmos para a festa de premiação, afinal havíamos chegado em segundo lugar na classe aço. Seria na Fortaleza de Santa Catarina, a mais bem preservada do Brasil.
(Foto
de Augusto Froehlich)
Aspecto da Fortaleza de S.
Catarina, em Cabedelo, Paraíba
A construção primitiva da fortaleza data de 1585, e foi construída em taipa de pilão pelo alemão Cristóvão Linz, por iniciativa do Capitão-mor Frutuoso Barbosa, em local por ele escolhido, sendo batizada de Fortaleza de Santa Catarina. Quando o capitão deixou Cabedelo, a fortaleza foi destruída pelos indígenas, sendo reconstruída no início do século XVII. Resistiu aos ataques holandeses até 1634, quando por fim estes tiveram vitória. Em 1637, o Conde Maurício de Nassau, a rebatizou com o nome de Forte Margarida, sofrendo reformas comprovadas pela presença de tiljolos holandeses. Com a restauração do domínio português em 1654, a fortaleza recuperou seu antigo nome de Santa Cantarina, pois a capelinha em seu interior era dedicada a essa santa com sua bela imagem barroca. Era conhecida também por Fortaleza do Cabedelo ou Forte do Matos( em homenagem ao seu segundo comandante João de Matos Cardoso). Em 1698 passou por nova remodelação, que lhe deu sua forma atual. As pedras de cantaria vieram de Lisboa como lastro de navio, e o projeto do Sargento-mor Pedro Correia Rebello, com alterações do engenheiro Luis Francisco Pimentel. O local da festa não poderia ter sido melhor escolhido...
O fato marcante
desta noite foi a doce vingança, proporcionada por um amigo velejador.
Conhecido
nacionalmente, morador de veleiro, um retrato vivo do velejador boa praça
brasileiro...
O tal primeiro lugar foi chamado e sob poucos aplausos subiu ao
palco para a premiação. Decepcionado pela falta de seriedade e animado pelo
whisky com água de côco que rolava solto, nosso amigo velejador levantou-se solene de
sua cadeira e de lá bradou a plenos pulmões com seu sotaque quase musical:
- Mótórôôôôôôô, mótórôôôôôôô...
A primeira foi surpresa. A segunda, todos entenderam. A terceira constrangiu. Mas da quarta pra frente, foi muito engraçado. O tal só parou de gritar quando todos desceram do palco... Mótórôôôôôôô...
(Foto de Augusto Froehlich)
A festa de premiação no
Forte de Santa Catarina - PB
(Foto
de Fernando Sheldon)
Repetimos a colocação: 2º
lugar na classe aço
Os prêmios foram entregues pelo governador da Paraíba. Um grupo muito bom de música regional homenageou todos os estados participantes da regata, com musicas de cada local. As coreografias e figurinos coroaram a qualidade musical do grupo. Salgadinhos, jantar, sobremesa e mais festa...
Para voltar ao hotel, o governo da Paraíba havia colocado um micro-ônibos à disposição, que já nos havia levado do hotel para a festa. Bonito: ar condicionado, limpo, espaçoso. Só tinha um problema: a bomba de diesel mandando ar pro sistema. Para sair tivemos que chamar um motorista mais experiente - e sóbrio - que o nosso e sangrar o motor para retirar o ar do sistema. Fomos os últimos encaminhados ao hotel e lá pelas tantas o motor parou novamente. Rob sugeriu uma nova sangria e, após tomar um banho de diesel pela insistência do motorista em tentar dar a partida com os bicos semi-abertos, o bicho voltou a pegar. Mas não por muito tempo. Às 2:30h, nosso "quase sóbrio" motorista teve um xilique e estacionou o micro na primeira calçada à mão... Galantemente uniformizados e portando os troféus nos respectivos suvacos, saímos felizes caminhando em direção ao hotel...
03/10/2005
A manhã seguinte foi reservada em
passeios João Pessoa, compras de artesanato da região, água de côco a R$
0,50 e uma visita ao farol do Cabo Branco, local mais oriental das américas.
Aquela curvinha mais proeminentemente, apontada pra Europa que o mapa do Brasil
faz, lá pra cima...
Inscrição no Farol do Cabo
Branco
Acabamos
numa praia, sob uma simpática barraca comendo caldinhos diversos, de peixe, de
carangueijo, de favinha, e algumas porções de lagosta no alho (R$ 6,00).
Àquela altura eu já havia sido acometido do famoso "piriri", um
desarranjo intestinal que me proporcionou um roteiro - digamos - mais
underground. Do centro da cidade ao Farol do Cabo Branco passando pelos dois
centros de artesanato e mercado municipal, conheço todos os banheiros !
O pôr-do-sol foi na famosa e charmosa praia do Jacaré. Uma parte do Rio Paraíba, com bares e decks avançando para a água, todos de frente à outra
margem, onde atrás de uma mata virgem, o sol vem descansar no final de cada
dia. Neste momento, dá-se diariamente um espetáculo que poderia estar entre o
dadaísmo e o surrealismo de Salvador Dalí, mas com a sutileza e delicadeza das
rendas nordestinas: uma canoa vem pelo rio e nela um saxofonista entoando o
Bolero, de Ravel.
O que quer que se fale não descreve a preciosa cena que
pudemos compartilhar naquela tarde...
Bolero de Ravel surreal
O jantar foi magnífico, oferecido pela nossa anfitriã Carla, na casa de sua cunhada: típico nordestino, com todas as delícias e quitutes que fazem da cozinha nordestina uma das mais deliciosas de todo o nosso país. Diante de nossos olhos desfilaram pratos como carne de sol, macaxeira, biscoitinhos de diversos tipos, pães, café, tapiocas, cuscuz e mais o que nem me lembro. Ficou o gosto da comida na lembrança da gente. E um gostinho daquela família feliz em nosso coração...
04/10/2005
Pela manhã, fomos até a parte
antiga de João Pessoa. Ela nasceu do rio para o mar. Lindos edifícios e vistas
para esse pedaço de história ainda existente por lá. Depois uma visita
monitorada ao Mosteiro de São Francisco. Nosso vôo partiria nesse mesmo dia no
meio da tarde e ainda precisávamos fazer as malas...
A caminho do aeroporto ainda paramos num restaurante onde algumas pessoas da
regata almoçavam. Entre elas Torres e a Elisa, o Comodoro do Paraíba Iate Clube, mais
umas quinze pessoas, inclusive nosso amigo que mora no veleiro. Não pudemos
deixar o momento passar. Antes de sair ainda pudemos, em coro, gritar para todos uma
forma alegre de despedida. Foi com surpresa que todos ouviram um pequeno - mas
festivo grupo gritando no restaurante:
- Mótórôôôôôôôôôô, mótórôôôôôôôôôô...
(Foto de Augusto Froehlich)
Vista do Mosteiro de S.
Francisco
...e de seu interior para o Rio
Paraíba
Gostaria de
terminar esse relato prestando uma homenagem ao Comandante José Benedito
Torres.
O sucesso de nossa Refeno deveu-se, sem sombra de dúvidas ao seu comando e
organização.
Quem veleja sabe que um barco tem inúmeros detalhes que podem deixá-lo na mão
durante uma travessia. Que o diga os veleiros que voltaram rebocados pela
marinha, um sem leme, outro quase sem mastro só esse ano...
Numa regata, muitos desses detalhes fazem a diferença entre vencer ou perder.
Chegar ou ficar pelo caminho. Fazer a travessia em segurança ou contar apenas
com a sorte. Entre os detalhes, estão a decisão da derrota, a precisão da
navegação, a decisão sobre rizar ou não as velas conhecendo e reavaliando o
potencial do veleiro.
Fazer tudo isso com segurança e organização, mantendo um bom relacionamento
entre os membros da tripulação é para poucos.
Obedecer é difícil.
Saber mandar é fundamental.
Parabéns Capitão. E obrigado pela oportunidade do aprendizado.
(Foto de Augusto Froehlich)
O Comandante inspeciona e tensiona
o
estaiamento do Kanaloa antes da partida
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"Morar em Sampa nos
deixa um calo n'alma. Precisamos fazer essa
manicure espiritual em Noronha pelo menos uma vez por ano !"
Ricardo Amatucci